Dinamismos ligados a cada objetivo

9 DINAMISMOS • Os dinamismos são propostas de concretização dos objetivos. Tal como foi referido a propósito dos objetivos, também os dinamismos são para operacionalizar em simultâneo, a nível pessoal e comunitário, e não devem ser entendidos como uma sequência.

Envolver os jovens na edificação da Igreja.

Proporcionar aos jovens o encontro com Jesus Cristo.

Acompanhar o discernimento vocacional dos jovens.

Envolver os jovens na edificação da igreja

1. Dinamismo de pertença

Muitos jovens hoje dizem que não se identificam com a Igreja, com as suas ideias, com a sua doutrina e com a sua moral; dizem que é ‘uma seca’, ‘de velhos’, um ‘lugar de punição’; acham as celebrações longas, aborrecidas; as catequeses são pobres; há atividades em excesso e nem sempre adaptadas aos seus interesses; não se identificam com as pessoas da Igreja; têm medo de serem gozados pelos colegas; não se sentem acolhidos… o que manifesta que, genericamente, não têm sentido de pertença.

Alguns referem que, simplesmente, se foram ‘desligando’ e afastando da prática dominical e da catequese, revelando que muito deste afastamento decorre das próprias famílias que também já não participam. Referem ainda que o afastamento também tem a ver com a falta de uma explicação de quem é Deus diante da muita informação científica e com comportamentos ligados a pessoas da Igreja (como quezílias e hipocrisia). O afastamento e o desconhecimento são algumas das razões do seu alheamento eclesial.

No entanto, alguns jovens referem o sentido de pertença pela tradição familiar e ligados a expressões de religiosidade popular; reconhecem credibilidade na Igreja e nos seus membros, dizem que admiram a bondade, a honestidade, a convicção, os valores, a disponibilidade para ajudar e quererem o bem das outras pessoas, pessoas positivas e generosas, pessoas que acreditam em algo maior do que esta vida terrena e pessoas com muita esperança. Reconhecem que é uma das maiores fontes de desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico.

Cada comunidade cristã assume o desafio de ser mais próxima dos jovens, mais acolhedora, mais inclusiva, mais aberta, mais atual e de tornar os jovens mais protagonistas da própria ação da Igreja.

2. Dinamismo do encontro

Muitos jovens dizem que as atividades e os sacramentos precisam de ser verdadeiros momentos de encontro e não apenas ‘atividades de calendário’. Sentem falta de momentos profundos de oração, de retiros, de missas campais, de peregrinações, de concertos solidários, de acampamentos e de voluntariado.

Alguns dizem que procuram saciar a sua espiritualidade fora da Igreja, porque não encontram aí o que procuram. A espiritualidade aparece aqui como algo mais interior e mais individual, menos comunitário e menos comprometido com a sociedade.

Outros dizem que a missa devia ser mais participada e interativa, mais apelativa, com cânticos mais animados e com homilias mais próximas à vida concreta; que as missas não sejam só ‘ouvir o padre, levantar e voltar a sentar’; pedem que os padres tenham um discurso mais cativante, as catequeses sejam mais dinâmicas e que haja maior abertura para se falar de temas da atualidade (como a sexualidade, tecnologia e a ecologia).

Cada comunidade cristã assume o desafio de tornar a missa mais participada e apelativa; de promover atividades, itinerários e espaços de diálogo aberto e de escuta autêntica e respeitadora.

 

3. Dinamismo da participação

Muitos jovens revelam falta de interesse em participar na comunidade, ou porque sentem que as atividades têm pouco interesse para eles ou porque têm outras atividades que entram em ‘conflito’. Também é expresso o desejo de ficar em casa ou com um pequeno grupo, mais do que participar em atividades da Igreja, da escola ou outras.

Durante a pandemia insistiu-se muito no ficar em casa, agora a dificuldade maior, para muitos, é ‘sair de casa’. Toda a vida familiar e social se centrou em poucos contactos. O medo dos contágios, o comodismo e o conforto de casa, entre outros, são razão e, muitas vezes, desculpa para evitar as atividades de grupo ou a presença na comunidade.

Cada comunidade cristã assume o desafio de promover mais atividades dirigidas aos jovens: encontros de formação (litúrgica, bíblica e humana); intercâmbio entre grupos de jovens; participação em encontros diocesanos, nacionais e internacionais; valorização dos projetos ‘Say Yes’, ‘Rise Up’, YouCat, DoCat…; criação de grupos de pastoral juvenil; valorização e integração dos jovens nas estruturas de corresponsabilidade, nos movimentos e nos serviços paroquiais/unidade pastorais (catequistas, acólitos, coros…).

PROPORCIONAR AOS JOVENS O ENCONTRO COM JESUS CRISTO

1. Dinamismo do primeiro anúncio

Muitos referem que estão desligados da Igreja ou que a sua ligação é muito frágil e pontual. Já não estamos numa cultura em que o cristianismo seja um dado adquirido e começa a faltar uma gramática comum, necessária para uma comunicação. Pelo que, cada vez mais, o dinamismo do primeiro anúncio reclama uma particular atenção pastoral.

De algum modo, teremos de falar, mesmo antes de um primeiro anúncio, de um primeiro contacto, um primeiro ‘link’, onde os jovens se conectem com o religioso e com Jesus Cristo. Esse primeiro contacto continua a contar com o testemunho de outros jovens, mas hoje teremos de considerar também as próprias redes sociais e os conteúdos na internet. Esta primeira aproximação precisa da ‘coragem criativa’ do Evangelho que tudo faz para anunciar Cristo.

Cada comunidade cristã assume o desafio de estar presente nos diferentes contextos e plataformas onde os jovens se encontram (redes sociais, desporto, música, artes…) de forma a sensibilizar e a preparar para o anúncio do Evangelho. Assume ainda o desafio de propor experiências de aprofundamento da fé, ou mesmo de primeiro anúncio, recorrendo a grupos juvenis da Paróquia/Unidade Pastoral, Alpha Jovem, Convívios Fraternos, Educação Moral Religiosa Católica e outros movimentos de espiritualidade juvenil.

2. Dinamismo do crescimento na fé

Muitos jovens referem que faltam espaços de debate onde se possam discutir abertamente ideias e necessidades relacionadas com a fé e os valores da Igreja; faltam atividades mistas que conjuguem convívio-tema-partilha de opiniões; faltam espaços físicos dedicados aos grupos de jovens e atividades onde todas as faixas etárias se possam interligar.

Alguns jovens falam da importância dos movimentos e dos grandes eventos, como as Jornadas Mundiais da Juventude, a Oração Mensal das JMJ, a Missão País, a peregrinação a Taizé e a Santiago de Compostela, o Escutismo, a juventude da Ação Católica, a Pastoral Juvenil, a Pastoral do Ensino Superior, o Shalom, a Comunidade Emanuel, a Mensagem de Fátima, o GVX (Grupos de Vida Cristã), o Caminho Neocatecumenal, o Verbum Dei, retiros, campos de férias paroquiais e campos de trabalho da Cáritas.

Cada comunidade cristã assume o desafio prioritário de criar uma equipa de pastoral juvenil local que inclua jovens e adultos; de criar ou apoiar a criação de espaços físicos dedicados aos jovens; de promover diferentes iniciativas e atividades para despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo; de propor a abordagem cristã de temas como a família, o estudo, o trabalho, o associativismo, a ecologia, a economia, a arte, a política, o voluntariado.

3. Dinamismo da oração

Muitos jovens deixam perceber que a vivência dos sacramentos não é compreendida como essencial e determinante das suas vidas, vendo-os mais como uma festa social e da comunidade cristã do que uma vivência profunda de encontro e de oração. Muitas vezes a proposta da Igreja não permite que os próprios momentos celebrativos sejam profundos, serenos, orantes e transformadores, faltando frequentemente silêncio, conteúdo e a alegria do Espírito Santo.

Para além das dificuldades dos momentos comunitários, todos percebemos a dificuldade que muitos jovens e adultos têm de parar para rezar, por ‘falta de tempo’, por falta de hábito ou porque, simplesmente, não sabem o que fazer e dizer diante do Senhor.

Cada comunidade cristã assume o desafio de celebrar a Eucaristia dando mais espaço à participação dos jovens (grupo coral, acólitos, leitores…); de cuidar da homilia que deve ser “uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento” (EG, 135); de promover a lectio divina com os jovens, tornando assim a Palavra de Deus mais acessível; de propor momentos de contemplação, de retiro e conteúdos para a oração pessoal e de grupo
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Acompanhar o discernimento vocacional dos jovens

1. Dinamismo da amizade com Cristo

Muitos jovens dizem que admiram Jesus Cristo e destacam as seguintes referências: bondade, amor por todos, compaixão, solidariedade, fidelidade a si mesmo, capacidade de perdão, tolerância, capacidade de ensinar e atrair, dedicação e doação total da vida, humildade, simplicidade, genialidade, capacidade de aguentar a dor extrema, empatia, proximidade.

Contudo, não basta esta admiração para estabelecer uma relação, é preciso escolher Jesus como um amigo e um companheiro da viagem da vida e, sobretudo, experimentar que Jesus foi quem nos escolheu primeiro. É preciso descobrir Jesus como Salvador e fonte de santidade, como critério de discernimento e referência existencial.

Cada comunidade cristã assume o desafiode apresentar Jesus Cristo numa perspetiva integral; de tornar Jesus Cristo o centro permanente de toda a atividade com os jovens com um ‘novo entusiasmo, novos métodos e novas expressões’ (cf. João Paulo II, 9 de março de 1983, Haiti).

 

2. Dinamismo do ‘Ser para os outros’

Muitos falam da importância de ações de voluntariado (dentro e fora da comunidade eclesial), da ajuda aos mais pobres das comunidades, das campanhas solidárias e financeiras para ajudar os vários grupos nas atividades durante o ano, das ações na defesa e do cuidado da natureza.

Num tempo de poucas causas, certamente que todos já percebemos a importância e a relevância do voluntariado e da ecologia. A Igreja precisa de pegar nestes dois temas com ações concretas e dinamismos próprios para que sejam, não apenas ações sociais, mas atitudes de profundo encontro com Cristo e com o Criador.

Cada comunidade cristã assume o desafiode dar a conhecer as várias oportunidades de serviço existentes na Paróquia/Unidade Pastoral e de proporcionar a sua participação nas mesmas; de dar a conhecer e promover a participação de jovens em serviços de voluntariado, a ação social e caritativa, como uma oportunidade especial de descoberta da vocação e do sentido mais profundo da vida; de sensibilizar e envolver os jovens na promoção de uma ecologia integral (cf. LS).

3. Dinamismo das vocações na Igreja

Muitos jovens referem que desejam ser felizes, mas associam ‘ser feliz’, sobretudo, ao êxito na família, no trabalho, no reconhecimento social e na saúde. Trata-se de uma felicidade ligada mais ao ter do que ao ser, mais a aproveitar a vida e as oportunidades, ter vida estável e próspera, ganhar dinheiro e viajar pelo mundo. Por isso, diante do futuro, dizem que o melhor é aproveitar o momento e viver um dia de cada vez.

No entanto, muitos desejam algo mais profundo e dizem que o trabalho não devia ocupar tanto tempo, nem devia ser a prioridade. Falam numa felicidade que passa por ajudar os outros, cuidar do planeta e construir uma família. De facto, revelam que a família é o pilar das suas vidas, que surge como porto de abrigo, âncora e suporte. Alguns referem marcas negativas na sua experiência familiar, desde violência, discussões, separações… e manifestam o desejo de não cometer os mesmos erros.

Os jovens admiram a vocação religiosa ou de consagração, a dedicação e a ajuda aos mais carenciados. Reconhecem a necessidade e a coragem de dizer ‘sim’ a Deus, a grande generosidade e disponibilidade de coração, a capacidade de transmitirem a mensagem de Deus, mas, genericamente, não a consideram uma possibilidade para si mesmos.

Cada comunidade cristã assume o desafio de organizar localmente um serviço de pastoral e discernimento vocacional com a missão de dar a conhecer testemunhos reais e felizes de casais, de padres, de consagrados e de leigos; de promover workshops vocacionais; de dar a conhecer exemplos bíblicos de vocação e a vida dos santos e de encaminhar os jovens para as propostas diocesanas.