Introdução

Este Plano Pastoral assume dois acontecimentos e duas realidades que, nos próximos anos, terão muito impacto no dinamismo eclesial da Igreja em Portugal e, consequentemente, também na nossa Diocese: as consequências diretas e indiretas da pandemia e a vivência da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.

Este Plano Pastoral assume dois acontecimentos e duas realidades que, nos próximos anos, terão muito impacto no dinamismo eclesial da Igreja em Portugal e, consequentemente, também na nossa Diocese: as consequências diretas e indiretas da pandemia e a vivência da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.

Por um lado, ainda estamos a viver uma pandemia que não sabemos quando acabará nem quais as reais consequências da mesma na sociedade e nos dinamismos eclesiais. Temos de considerar vários aspetos: os medos que decorrem desta pandemia e que alteram os hábitos de encontro, de reunião, de mobilidade, de presença; considerar o número elevado de mortos com consequências demográficas e o número elevado de lutos que ficaram por fazer; considerar o desemprego e a precariedade laboral que se viu muito agravada pelos reflexos da pandemia em vários setores empresariais; considerar a capacidade mobilizadora de muitas pessoas e comunidades em torno de causas neste tempo; referir a reforçada importância dada às relações mais próximas e ao contacto com a natureza em detrimento das multidões e dos ajuntamentos; considerar a relevância dos meios de comunicação social e as novas formas de conectividade na sua ambiguidade entre muitas coisas positivas e negativas.

Por outro lado, não podemos deixar de sublinhar a importância da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. Pode ser uma enorme oportunidade de renovação e de envolvimento de todos neste dinamismo de fé e de discernimento vocacional. Certamente que muitas expetativas ficarão aquém do desejado, mas muitas concretizações serão uma imensa oportunidade evangelizadora que não podemos desperdiçar, quer na preparação das mesmas, quer na vivência da pré-Jornada, quer na própria Jornada, quer na pós-Jornada. Poderá ser um tempo para reaproximar os jovens e os adultos da Igreja, da prática cristã e dos sacramentos. Uma oportunidade reforçada pelo acolhimento generalizado da figura do atual Papa, tanto por crentes (católicos, outras confissões cristãs e outras religiões), como por não crentes.

 

Estes dois acontecimentos não podem ignorar uma realidade mais dura que vamos sentindo em toda a Europa: um continente envelhecido, com poucos jovens, com perda de protagonismo geopolítico no mundo, com dificuldade em manter a sustentabilidade do modelo humanista e social e, sobretudo, com várias instituições a perder relevância social e política.

A Igreja Católica na Europa não é imune a essa realidade e também sente as suas comunidades mais envelhecidas, sente que não é a única voz nem a mais ouvida na sociedade, que os grupos tendem a ser mais pequenos e, muitas vezes, vivem numa certa tensão (veja-se desde logo, a tensão entre movimentos e paróquias ou os diferentes modos de acolher o Vaticano II). Já não vivemos no tempo da cristandade. As comunidades cristãs começam a perceber-se como ‘minorias’. Contudo, a maior questão, neste ponto, é refletir se somos minorias criativas segundo o Evangelho ou minorias que se acomodam e se instalam em rotinas desligadas do compromisso social e do testemunho cristão.

Sentimos que hoje há desejo de Deus, que há sinais de algum regresso ao sagrado e que em muitos homens e mulheres há uma busca espiritual. Contudo, como nos recorda o Papa Francisco, ‘esses fenómenos são ambíguos’ (cf. EG, 89). “Mais do que o ateísmo, o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus” (EG, 89).

Antes de mais, precisamos de reforçar e alimentar a fé de todos os que se consideram cristãos praticantes. Que os cristãos celebrem o dom da vida com alegria e com entusiasmo, com profundidade e com sentido de missão, porque nós não temos uma missão, nós somos uma missão nesta terra (cf. EG, 273). Temos de ajudar cada cristão, em qualquer idade e circunstância, a sentir que “há uma necessidade imperiosa de evangelizar as culturas para inculturar o Evangelho” (EG, 69).

Mas, por outro lado, precisamos muito de ir ao encontro dos ‘buscadores’, de todos os que andam à procura de um sentido maior. Precisamos de lugares e de tempos de escuta, de momentos em que vamos ao encontro. Precisamos de abrir as portas das igrejas não só para acolher, mas também para sair ao encontro dos que estão feridos à beira do caminho e dos que andam desanimados. O Papa Francisco fala-nos de uma ‘Igreja em saída’ e diz que “a Igreja ‘em saída’ é uma Igreja com as portas abertas” (EG, 46).

Apesar de todas as dificuldades que possamos encontrar, necessitamos de construir o presente e de incarnar o Evangelho. No nosso ADN de cristãos está o Êxodo e a Terra Prometida, o exílio e o regresso a Jerusalém, a perseguição e a coragem do anúncio. Por isso, precisamos de uma Igreja que se deixe guiar pelo Espírito e que não se acomode às dificuldades, porque “as dificuldades que parecem enormes são a oportunidade para crescer, e não desculpa para a tristeza” (FT, 78). Este pode ser um tempo privilegiado que reclama o espírito das primeiras comunidades e a ‘coragem criativa’ dos apóstolos e dos missionários. Animados pelo Ressuscitado e com a força do Espírito, somos a Igreja que nasceu na manhã de Pentecostes.

Recordamos que este Plano Pastoral retoma o dinamismo sinodal como método e como força de comunhão e de compromisso, dinamismo que já é uma realidade na nossa Diocese e que queremos cada vez mais presente nos diferentes organismos e dinamismos eclesiais. Em concreto, este Plano tem em consideração a avaliação do anterior e, sobretudo, o contributo resultante das respostas aos questionários realizados na nossa Diocese (Questionário A – Conselhos Pastorais e Equipas de Animação Pastoral; Questionário B – jovens integrados na Igreja; Questionário C – não crentes e afastados da Igreja). Foram várias as respostas recebidas, a que se seguiu um trabalho de síntese que inspira este Plano e que deixa muitas referências importantes para a sua concretização. Este é um trabalho que pertence a muitos e que confiamos a Deus Trindade para que possamos continuar a construir o Reino de Deus nesta Diocese de Coimbra com entusiasmo e alegria, compromisso e empenho, inteligência e carinho, com gestos proféticos e compaixão, com sabedoria e, sobretudo, esperança.

Por fim, importa sublinhar que o Plano Pastoral 2021-2024 não é apenas para os jovens, mas para toda a Diocese de Coimbra. Trata-se de um Plano que não é setorial ou para uma determinada faixa etária, mas que há de envolver todas as idades e todos os setores, grupos e movimentos da Diocese.